Numa mensagem de Ano Novo escrevi a alguém que orava para que, neste ano, tivesse entre outras coisas saúde física e espiritual. Na resposta à mensagem perguntou-me o que era isso de ter saúde espiritual.

Para responder a esta questão sirvo-me da 3º epístola de S. João que é muito curta, apenas uma página. Cito o texto: «O Ancião ao Caríssimo Gaio, a quem amo na verdade. Caríssimo, desejo que em tudo prosperes e que a tua saúde corporal seja tão boa como a da tua alma.» (3 Jo1-2)

Nesta pequena epístola, descobrimos uma carta pessoal escrita pelo apóstolo João a um homem chamado Gaio, um dos seus filhos espirituais que ele muito ama. João acaba de receber notícias recentes do seu amigo que atestam que ele está em boa saúde espiritual. E João diz quanto essas notícias positivas lhe deram alegria. De facto, ele soube que a alma de Gaio prospera e que leva uma vida íntegra, procurando caminhar na verdade do evangelho. João informa Gaio que também reza pela sua saúde física para que seja tão sólida como o é a sua saúde espiritual.

Nós somos uma unidade constituída por corpo e alma, o termo alma podemos traduzir por espírito, ou seja aquela parte espiritual da pessoa que não morre e que é como que a sua identidade mais profunda a que podemos chamar também coração no sentido bíblico.

Amar alguém é preocupar-se com ele e, por isso, orar pela sua saúde física e espiritual. Ora, acontece que nós muitas vezes privilegiamos um e esquecemos o outro. Tentamos saber notícias uns dos outros sobre a saúde, mas unicamente a corporal. É muito natural que os amigos rezem pelos problemas ligados a doenças físicas. Mas não estamos normalmente inclinados a saber notícias uns dos outros sobre a nossa saúde espiritual.

Isso pode parecer-nos demasiado pessoal e íntimo e não queremos causar desconforto aos outros. Quando ousamos pedir a oração aos amigos crentes, normalmente não evocamos as nossas lutas com a dúvida, os nossos desânimos no campo da fé, os nossos medos, as nossas dificuldades em rezar, a nossa falta de fé e obediência a Deus. Preferimos ficar nos assuntos que dizem respeito à saúde física ou a preocupações superficiais.

No entanto, se queremos testemunhar uma amizade fiel para com uma pessoa que enfrenta um sofrimento, nós devemos rezar pela sua saúde física e espiritual. Podemos simplesmente dizer: rezo pela tua saúde física: como poderei rezar pela tua saúde espiritual?

No dia de Natal fui chamado para dar a unção dos doentes a alguém que estava num estado terminal e podia não chegar ao dia seguinte. Portanto, fui dar a unção dos doentes em caso de extrema-unção. Como é um sacramento maravilhoso para ajudar o doente a encontrar a cura do corpo ou da alma, quando é dado em extrema-unção é mais para ajudar a morrer bem.

Quando dois dias depois telefonei para saber do doente, o funeral já tinha sido, pois não era cá da paróquia. Mas os familiares fizeram questão de me dizer que ele ficou muito diferente depois da Unção. Entrou numa tranquilidade, serenidade e paz que admirou a todos e entregou-se nas mãos de Deus.

Por isso é que as pessoas devem pedir o sacramento da Unção dos doentes antes de uma intervenção cirúrgica que lhes mete medo. Não se trata só do corpo. Trata-se de ir para a operação sentindo que a mão de Deus agarra ternamente a sua e o acompanha sempre e especialmente naqueles momentos. Somos um mistério que não se reduz aos compostos químicos da nossa corporeidade. Somos muito mais! E nós cristãos devemos lembrar-nos disto e lembrá-lo aos nossos amigos.

Já agora perguntemo-nos: Como vai a saúde da minha alma? Entrámos num ano Jubilar. Não poderá ser uma oportunidade para fazer crescer a saúde da minha alma?

Pe. Jorge Santos