Missa
Antífona de entrada Cf. Sl 17, 19-20
O Senhor veio em meu auxílio, livrou-me da angústia e pôs-me em liberdade. Levou-me para lugar seguro, salvou-me porque me tem amor.
Oração coleta
Fazei, Senhor, que os acontecimentos do mundo decorram para nós segundo os vossos desígnios de paz e a Igreja Vos possa servir na tranquilidade e na alegria. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
LEITURA I Sir 27, 5-8 (gr. 4-7)
«Não elogies ninguém antes de ele falar»
Esta primeira leitura prepara a terceira, e ambas têm carácter acentuadamente sapiencial; é assim que esta primeira leitura serve para ilustrar a última pequena parábola das três que o Evangelho nos apresenta. A palavra revela o que há de mais profundo no homem, os seus defeitos e as suas qualidades. Com três rápidas comparações, tiradas da experiência atentamente observada, esta breve leitura nos ensina os caminhos da sabedoria.
Leitura do Livro de Ben-Sirá
Quando agitamos o crivo, só ficam impurezas: assim os defeitos do homem aparecem nas suas palavras. O forno prova os vasos do oleiro e o homem é posto à prova pelos seus pensamentos. O fruto da árvore manifesta a qualidade do campo: assim as palavras do homem revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os homens.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 91 (92), 2-3.13-14.15-16 (R.cf. 2a)
Refrão: É bom louvar o Senhor. Repete-se
Ou: É bom louvar-Vos, Senhor,
e cantar salmos ao vosso nome. Repete-se
É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade. Refrão
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano:
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus. Refrão
Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade. Refrão
LEITURA II 1 Cor 15, 54-58
«Deu-nos a vitória por Jesus Cristo»
A terminar um longo capítulo sobre o mistério da ressurreição dos mortos, o Apóstolo entoa um hino de triunfo e ação de graças a Deus pela vitória pascal de Cristo e a nossa participação na mesma. Cristo, com a sua oblação na Cruz, venceu a morte para sempre, e deu-nos a graça de participarmos, nós mortais, nessa sua vitória pascal.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Quando este nosso corpo corruptível se tornar incorruptível e este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: «A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?». O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Mas dêmos graças a Deus, que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor, sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor.
Palavra do Senhor.
ALELUIA Flp 2, 15d.16ª
Refrão: Aleluia. Repete-se
Vós brilhais como estrelas no mundo, ostentando a palavra da vida. Refrão.
EVANGELHO Lc 6, 39-45
«A boca fala do que transborda do coração»
Em três breves parábolas o Senhor ensina-nos o caminho da sabedoria: o cego a guiar outro cego, o argueiro e a trave na vista e a árvore que se pode reconhecer pelo fruto. Todas elas conduzem ao que um salmo chama a “sabedoria do coração” (Sl 89), e esta irá revelar-se nas palavras que são na boca o eco do que vai no coração do homem.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: «Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração».
Palavra da salvação.
Meditação da Palavra de Deus: Reflexão
Viver a partir do coração
«O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração»
O que é que a Bíblia chama coração, donde o homem pode tirar o bem ou o mal? Numa apresentação esquemática, para maior compreensão de nós mesmos, diria que há quatro dimensões constitutivas do ser humano. A primeira delas é a física, biológica, material: a do corpo (soma).
É a mais fácil de identificar, é palpável, visível, sensível. Sentimos frio, calor, prazer, sofrimento, fome, sede, etc. É com o corpo que nos relacionamos com os outros e com o mundo. Nós não temos corpo. Somos corpo. Mas não somos só corpo. Somos também sentimentos, emoções, afetos: sentimos medo, cólera, ódio, amor, paixão. É a dimensão psíquica da pessoa (psychè).
Percebemo-la bem em nós e sentimo-la, mas não a vemos da mesma forma que vemos as coisas materiais. A terceira, é a nossa dimensão mental ou racional, (nous). Com ela estruturamos o pensamento, associamos as coisas e simbolizamos a realidade. Isto permite-nos pensar de forma crítica e livre ainda que dentro de certos limites, pois também temos condicionalismos.
Finalmente, chegamos à quarta dimensão, a mais profunda em nós e que dá à pessoa humana a sua mais alta dignidade. Ela, por ser mais profunda e mais espiritual, é menos observável. A Bíblia chama-lhe, “coração” e, na tradição da Igreja, chamamos-lhe alma ou espírito, mas não no sentido psíquico. É a dimensão espiritual exclusiva do ser humano. Feitos à imagem de Deus, trazemos connosco este património Seu que partilhou connosco. Temos algo de divino em nós.
Ele soprou o seu sopro vital sobre nós e comunicou-nos o seu ser divino, o seu espírito. Daí a nossa grandeza, dentro dos limites da nossa condição terrena. Porque é que só o ser humano é religioso desde o início e, embora tateando, sempre procurou deuses ou Deus? Porque nos interrogamos tanto sobre o sentido da vida e da existência? Porque temos sentido ético? Porque somos seres sempre insatisfeitos e sentimos que nos falta sempre algo mais?
É porque temos em nós a marca de Deus, o selo divino. Não somos só pó da terra. Aspiramos ao absoluto, aspiramos por Deus como uma saudade que trazemos em nós. É no nosso coração, nesta dimensão capaz de Deus, que se situa o nosso Eu profundo, aquilo que me constitui de original e único. A minha identidade profunda e única situa-se aqui e, depois, revela-se exteriormente também no corpo.
É aqui que se inscreve a minha liberdade e a minha capacidade de decisão, de escolher o bem mesmo quando o meu corpo e os meus sentimentos me pedem outra coisa. Posso decidir ao contrário dos meus impulsos quando eles não me conduzem para aquilo que eu sei ser o bem, porque tenho uma consciência moral, um centro de liberdade e vontade que pode comandar todas as potências do meu ser.
O pensamento de Jesus no evangelho de hoje é claro: O homem verdadeiro constrói-se a partir do coração, deste seu centro interior. É aqui, no coração, que se joga o melhor e o pior de nós mesmos. Ou deixamos que Deus habite este nosso centro interior com a Sua luz ou fechamo-nos a Ele e então essa zona íntima passa a ser habitada pelas trevas e pelo vazio e só pode produzir o mal.
Quando Jesus disse a Zaqueu: «Zaqueu hoje preciso de ficar em tua casa.» Zaqueu recebeu-O cheio de alegria e logo se viu o resultado. Toda a vida de Zaqueu mudou porque a sua casa interior foi iluminada. Jesus diz no Apocalipse: «Eis que eu estou à porta e bato, se alguém ouvir e abrir a porta eu entrarei e cearei com Ele e Ele comigo».
Quando este centro interior da nossa vida é habitado por Ele, todo o nosso ser; corpo, psíquico e mente, entram em harmonia e nós sentimo-nos unificados, íntegros, inteiros. Quando esta zona íntima não tem a luz da presença de Deus, tornamo-nos seres espartilhados, divididos, desintegrados e o fruto que produzimos é mau, pois vem da carne e não do espírito.
Na encíclica dilexit nos, o Papa convida-nos a viver a partir do coração.
Oração sobre as oblatas
Senhor nosso Deus, que nos concedeis estes dons que Vos oferecemos e nos atribuís o mérito do oferecimento, nós Vos suplicamos: o que nos dais como fonte de mérito nos obtenha o prémio da felicidade eterna. Por Cristo nosso Senhor.
Antífona da comunhão Cf. Sl 12, 6
Cantarei ao Senhor pelo bem que me fez, exaltarei o nome do Senhor, cantarei hinos ao Altíssimo.
Ou: Cf. Mt 28, 20 Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos, diz o Senhor.
Oração depois da comunhão
Senhor, que nos saciais com os vossos dons sagrados, concedei-nos, por este sacramento, com que nos alimentais na vida presente, a comunhão convosco na vida eterna.
Por Cristo nosso Senhor.