A Transfiguração do Senhor — A luz que transforma

No dia 6 de agosto, a Igreja celebra uma das manifestações mais luminosas da vida de Jesus: a Transfiguração do Senhor. Este acontecimento, profundamente espiritual e cheio de significado, revela a identidade divina de Cristo diante de três dos seus apóstolos e antecipa o fulgor da sua ressurreição.

O que aconteceu no Monte?

Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João a um “monte elevado” para orar. Durante esse momento de recolhimento, o seu rosto muda de aparência e as suas vestes tornam-se resplandecentes, de uma brancura que ultrapassa a compreensão humana. Ao seu lado surgem Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas do Antigo Testamento. Estes falam com Jesus sobre a sua futura paixão, morte e glória.

Enquanto os discípulos contemplam, maravilhados e temerosos, uma nuvem cobre o monte e deles se ouve uma voz:

“Este é o meu Filho, o Eleito: escutai-O!” (Lucas 9,35)

É Deus Pai quem fala, revelando o Filho e convidando os discípulos – e todos nós – a ouvi-Lo.

Por que razão Jesus se transfigurou?

Segundo Santo Tomás de Aquino, a Transfiguração foi um dom concedido por Cristo aos seus apóstolos: um vislumbre da sua glória divina para os fortalecer antes das tribulações da paixão. Foi uma preparação espiritual, um anticipo da vitória sobre a morte, mostrando que a cruz não seria o fim, mas o caminho para a vida eterna.

A presença da Trindade

Neste episódio, as três Pessoas da Santíssima Trindade manifestam-se de forma simbólica:

  • O Pai, na voz que se ouve da nuvem.
  • O Filho, na pessoa de Jesus transfigurado.
  • O Espírito Santo, na nuvem luminosa que envolve os presentes.

O significado profundo da Transfiguração

A palavra “transfiguração” vem do latim transfiguratio, que significa mudança de forma ou aparência. Não se trata de uma ilusão ou de um disfarce, mas de uma revelação: o que os discípulos veem é a verdadeira glória de Cristo, habitualmente oculta sob a condição humana.

A Transfiguração mostra que o sofrimento não tem a última palavra. A luz de Deus vence a escuridão da cruz. É um convite à esperança, mesmo nas situações mais difíceis.

Onde aconteceu?

Embora o Evangelho apenas mencione “um monte alto”, a tradição cristã identifica este lugar com o Monte Tabor, na Galileia. No cimo deste monte, hoje encontra-se um santuário dedicado à Transfiguração, erguido sobre ruínas de igrejas anteriores que datam dos séculos IV e XII.

O impacto nos apóstolos

Pedro, Tiago e João foram testemunhas privilegiadas. Ficaram tão impactados que Pedro, sem saber o que dizia, propôs erguer tendas para permanecer ali. Mas aquele momento não era o fim, era uma experiência para recordar quando chegasse o tempo da dor e da cruz.

O Papa Bento XVI sublinhou que Jesus quis dar aos seus amigos mais próximos uma antecipação da luz divina, para que, quando tudo parecesse perdido, se lembrassem da glória que tinham visto.

Subir e descer: uma lição para a vida

O Papa Francisco convida-nos a refletir sobre dois movimentos fundamentais deste episódio:

  • Subir ao monte: encontrar-se com Deus na oração, no silêncio, na intimidade espiritual.
  • Descer do monte: regressar à vida quotidiana, levando a luz recebida aos irmãos que sofrem, aos que precisam de consolo, justiça, esperança.

“Não podemos ficar no monte. O encontro com Cristo impele-nos a descer e a agir.” – Papa Francisco

O que nos ensina hoje a Transfiguração?

São João Paulo II dizia que a Transfiguração é um sinal para todos os cristãos: na oração e nos sacramentos encontramos o Senhor glorioso, mas somos chamados a levar essa luz às estradas do mundo, com fé e coragem.

Assim, a celebração do dia 6 de agosto não é apenas memória de um acontecimento passado, mas um convite atual:

deixar-se transfigurar pela presença de Cristo, para viver iluminado por Ele e refletir essa luz no meio das trevas do mundo.

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