A Assunção de Nossa Senhora: Um mistério de fé e esperança

15 de Agosto: Maria é elevada ao Céu em corpo e alma

No dia 15 de agosto, a Igreja celebra uma das maiores solenidades do calendário litúrgico: a Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu. Esta festa proclama que Maria, Mãe de Deus, ao terminar a sua peregrinação terrestre, foi levada de corpo e alma à glória celeste, onde participa plenamente na Ressurreição do seu Filho, Jesus Cristo.

É uma celebração de fé, de esperança e de amor. Um olhar para Maria é um olhar para o nosso futuro prometido: a vida eterna na plenitude da glória de Deus.


O que é a Assunção de Maria?

Segundo o Catecismo da Igreja Católica (n.º 974), “a Santíssima Virgem Maria, tendo completado o curso da sua vida terrestre, foi elevada em corpo e alma à glória do Céu, onde já participa na glória da Ressurreição do seu Filho, antecipando a ressurreição de todos os membros do seu Corpo”.

Ou seja, Maria não foi apenas glorificada na alma, mas inteiramente: o seu corpo e a sua alma foram acolhidos no Céu. Esta doutrina exprime uma verdade fundamental: Maria não conheceu a corrupção do túmulo, pois sendo a Mãe do Salvador, foi preservada da mancha do pecado original e glorificada em unidade perfeita com o seu Filho.


Um Dogma de Fé

A Assunção foi definida como dogma pelo Papa Pio XII em 1 de novembro de 1950, através da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus. Nela, o Papa declara:

“Declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrestre, foi assumida em corpo e alma à glória celeste.”

Este dogma não introduz uma nova verdade, mas afirma com autoridade algo que já era crido e venerado há séculos no coração da Igreja. A definição baseou-se na Tradição, nos escritos dos Padres da Igreja, na piedade litúrgica e no sensus fidei do povo cristão.


É uma doutrina bíblica?

Embora a Assunção de Maria não esteja descrita explicitamente nas Escrituras, o magistério da Igreja reconhece que ela está implícita na Revelação e sustentada por muitos símbolos bíblicos:

  • Salmo 132,8: “Levanta-te, Senhor, para o lugar do teu repouso, tu e a arca da tua força!” — Maria é a nova Arca da Aliança.
  • Cântico dos Cânticos 3,6: “Quem é esta que sobe do deserto como coluna de fumo…” — alusão ao seu glorioso destino.
  • Apocalipse 12: A mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas — figura de Maria na glória.
  • Isaías 60,13: “…para honrar o lugar onde repousam os meus pés.”

Além disso, a tradição da Igreja sempre entendeu que, sendo Maria a nova Eva, a sua vida deveria refletir em tudo a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.


Maria e a Ressurreição: esperança para todos

A Assunção de Maria é uma participação singular na Ressurreição do seu Filho. Ela representa a antecipação daquilo que nos espera: a glorificação do corpo e da alma para os que vivem e morrem em Cristo.

Como afirmou São João Paulo II:

“Maria, elevada ao Céu, aponta o caminho: o caminho da vida, o caminho da esperança. O seu destino é o nosso destino, desde que permaneçamos fiéis ao Senhor.”

Contemplar Maria glorificada é contemplar o nosso próprio chamado à santidade e à comunhão eterna com Deus.


Morreu a Virgem Maria?

A definição do dogma não afirma nem nega diretamente a morte de Maria. No entanto, muitos santos Padres e doutores da Igreja ensinam que Maria, à semelhança do seu Filho, passou pela morte, mas não sofreu a corrupção do corpo. A Igreja Oriental chama este momento de “Dormição de Maria”, um “adormecer em Cristo” que precede a sua gloriosa Assunção.

Assim, acredita-se que:

  1. Maria morreu em paz, com total confiança e entrega ao Senhor;
  2. O seu corpo permaneceu incorrupto;
  3. Foi elevada ao Céu por obra divina, corpo e alma reunidos, para junto do seu Filho.

Presença de Maria na Igreja Primitiva

Após a Ascensão de Jesus, Maria permaneceu com os Apóstolos. Como narra o livro dos Atos dos Apóstolos (1,14), ela estava presente na oração comunitária e no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre a Igreja nascente.

O Catecismo afirma (n.º 965):

“Depois da Ascensão do seu Filho, Maria acompanhou com a sua oração a Igreja em início. Reunida com os Apóstolos e algumas mulheres, pedia com eles o dom do Espírito.”


Celebração litúrgica e devoção popular

O dia 15 de agosto é um dos principais feriados religiosos em muitos países de tradição católica, incluindo Portugal. É uma solenidade de preceito, o que significa que todos os fiéis são convidados a participar na Eucaristia neste dia.

A devoção popular inclui:

  • Missas festivas;
  • Procissões marianas;
  • Ofertas de flores e cantos;
  • Orações especiais, como o Rosário, especialmente o 4.º Mistério Glorioso: A Assunção de Nossa Senhora ao Céu.

Em muitos lugares, o dia é marcado por celebrações comunitárias que unem fé, cultura e tradição.


Maria: Mãe, Intercessora e Rainha

A Assunção não é apenas um evento histórico, mas uma realidade espiritual atual. Maria, elevada ao Céu, intercede por nós como Mãe da Igreja e Rainha do Universo. A sua presença junto de Deus não a distancia de nós, mas permite-lhe estar ainda mais próxima, como ensinou o Papa Bento XVI:

“Ao estar em Deus e com Deus, Maria está próxima de cada um de nós, conhece o nosso coração, ouve as nossas orações, e com a sua bondade materna pode ajudar-nos.”

A Igreja presta a Maria hiperdulia, ou seja, a maior honra entre todos os santos, mas nunca adora Maria. A adoração, chamada de latria, é reservada exclusivamente a Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.


O valor espiritual da Assunção

O mistério da Assunção leva-nos a meditar sobre:

  • A dignidade do corpo humano: somos chamados a glorificar a Deus com corpo e alma.
  • A vitória sobre a morte: o túmulo não é o fim para quem vive em Cristo.
  • A esperança escatológica: Maria é o ícone da Igreja gloriosa.

Como disse o Papa Francisco:

“A Assunção manifesta e confirma a unidade da pessoa humana e recorda-nos que somos chamados a servir e glorificar a Deus com todo o nosso ser: corpo e alma.”


Maria, sinal seguro de esperança

A Solenidade da Assunção é um dia de alegria, de esperança e de amor filial. Nela, a Igreja reconhece o cumprimento das promessas de Deus em Maria e, ao mesmo tempo, antecipa o nosso destino de glória.

Diz o prefácio da Missa da Assunção:

“Hoje, a Virgem Mãe de Deus foi elevada à glória do Céu, como primícias e imagem da Igreja triunfante, garantia de esperança e de consolação para o povo ainda em peregrinação.”

Que neste dia, cada coração cristão se una à Igreja universal para louvar a Mãe de Deus, pedindo-lhe que nos ensine a viver com fé, a morrer com esperança e a ressuscitar com Cristo para a vida eterna.

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!


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