A Igreja celebra no dia 29 de Agosto a memória do martírio de São João Batista, o profeta que preparou os caminhos do Senhor e anunciou a chegada de Jesus Cristo. A sua vida foi marcada pela fidelidade à verdade e pela coragem de denunciar o pecado, mesmo diante de reis poderosos.
João, o Precursor fiel
Nascido de Isabel e Zacarias, João Batista foi escolhido desde o ventre materno para preparar o povo para a vinda do Messias. Viveu no deserto, em simplicidade e oração, e pregava o batismo de conversão junto ao rio Jordão. A sua missão não era chamar a atenção para si, mas apontar para Cristo, dizendo: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3,30).
João foi a voz firme que não se calou diante da injustiça. Ele denunciou publicamente a união ilícita de Herodes Antipas com Herodíades, mulher do seu irmão Filipe. Essa verdade custou-lhe a prisão e, mais tarde, a vida.
Herodes, um rei dividido
O Evangelho descreve Herodes como um homem fraco, dividido entre o respeito por João e a sua vida de pecado. Por um lado, escutava-o com prazer, reconhecendo a sua santidade; por outro, não tinha coragem de mudar de vida. O seu coração corrompido fez dele um homem incapaz de escolher o bem, mais preocupado com a sua imagem diante dos outros do que com a vontade de Deus.
Herodíades, a mulher dominada pelo ódio
Herodíades é apresentada como a figura mais cruel deste episódio. Deixou-se levar pelo rancor contra João porque ele denunciava o seu pecado. O Evangelho diz claramente: “Herodíades odiava João e queria matá-lo” (Mc 6,19).
O ódio tornou-se a sua força, cegando-a completamente. Incapaz de suportar a verdade, esperou pacientemente a ocasião de se vingar. Foi ela quem instigou a própria filha a pedir a morte do profeta. Herodíades não conheceu o amor verdadeiro; o que a movia era a vingança, e o seu nome ficou na história como exemplo do poder destrutivo do ódio.
Salomé, a jovem manipulada
A filha de Herodíades – identificada pela tradição com o nome Salomé – entrou em cena durante o banquete de aniversário de Herodes. Jovem e vaidosa, agradou com a sua dança ao rei e aos convidados. Herodes, embriagado pelo prazer e pela vaidade, jurou conceder-lhe qualquer pedido.
Salomé poderia ter pedido riquezas, terras ou favores, mas, obedecendo à sua mãe, pediu a cabeça de João Batista numa bandeja. A sua vaidade e imaturidade foram instrumentalizadas por Herodíades para consumar o crime.
O martírio de João
Preso pelo seu juramento e pelo medo de perder prestígio diante dos convidados, Herodes mandou executar João. Assim, o maior dos profetas terminou os seus dias numa prisão escura, morto não por renegar a fé, mas por permanecer fiel à verdade de Deus.
João Batista é, por isso, considerado mártir da justiça e da verdade. Ele preferiu morrer a calar-se diante do pecado. A sua vida é exemplo de coragem para todos os cristãos que, ainda hoje, são chamados a testemunhar o Evangelho mesmo em meio à perseguição e à rejeição do mundo.
A esposa legítima de Herodes
É importante recordar que, antes de se unir a Herodíades, Herodes Antipas era casado com a filha do rei Aretas, da Arábia Nabateia. Ao repudiá-la para viver com Herodíades, não só cometeu um grave pecado contra a lei de Deus, como provocou conflitos políticos que mais tarde levaram à sua derrota militar e ao seu desterro. Assim, a desordem moral abriu caminho também à ruína do seu reino.
Significado para nós hoje
O martírio de São João Batista não é apenas um episódio distante da história. Ele é uma chamada de Deus para a nossa vida. Num mundo onde muitas vezes se prefere o silêncio diante do erro, João ensina-nos a importância de proclamar a verdade com coragem.
A história de Herodes, Herodíades e Salomé mostra-nos os perigos da corrupção, do ódio e da vaidade. O pecado nunca fica sem consequências: começa pequeno, mas pode levar à destruição. Já a vida de João é sinal de esperança: a verdade de Deus pode ser perseguida, mas nunca é vencida.
Oração final
Senhor nosso Deus, que chamastes São João Batista a preparar os caminhos do vosso Filho e lhe destes a coragem de dar a vida pela verdade, concedei também a nós a força do vosso Espírito, para que, diante das tentações e das injustiças do mundo, saibamos permanecer fiéis ao Evangelho. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.




