Missa
Foi no quadro comum duma família humana que se realizou o mistério da Encarnação, pelo qual Deus feito Homem habita entre os homens. É por isso que, neste clima de Natal, a Igreja honra esta família de obscuro artista de aldeia, em cujo seio decorreram os anos íntimos e silenciosos da infância e da juventude de Jesus e que se tornou modelo de toda a família e de toda a sociedade.
Nos nossos dias, passa a família por transformações profundas, que lhe alteram o rosto que estávamos habituados a contemplar. Contudo, a comunidade familiar, nascida da instituição divina que é o matrimónio, mantém todo o seu valor. A experiência dos países, onde se levou ao máximo a socialização e os estudos da psicanálise mostram a importância decisiva da família para a vida de todo o homem.
Nesta Família tão santa, quer pelas pessoas que a integram, quer pela sua singular missão, quer ainda pelo seu género de vida, têm todas as famílias cristãs um modelo perfeito de amor, de união e paz. Seguindo-o, os cristãos «superando as dificuldades, proverão às necessidades e vantagens da família, de acordo com os novos tempos» (GS. 52). E a vida familiar, assim iluminada e protegida, continuará a modelar os homens à imagem de Cristo e a encaminhá-los para a família do Céu.
Antífona de entrada Lc 2, 16
Os pastores vieram a toda a pressa e encontraram Maria, José e o Menino deitado no presépio.
Diz-se o Glória.
Oração coleta
Senhor, Pai santo, que na Sagrada Família nos destes um modelo de vida, concedei que, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na vossa casa para gozarmos as alegrias eternas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
LEITURA I Sir 3, 3-7.14-17a (gr. 2-6.12-14)
«Aquele que teme a Deus honra os seus pais»
A palavra de Deus faz o elogio da vida familiar. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem, quis nascer e viver numa família humana. Foi ela a primeira família cristã, modelo, a seu modo, de todas as demais. O amor de Deus em todos os membros de uma família é condição fundamental para o crescimento, em paz, de todos os que nela nascem e vivem, como no quadro que o sábio nos apresenta nesta leitura.
Leitura do Livro de Ben-Sirá
Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL Salmo 127 (128), 1-2.3.4-5 (R. cf. 1)
Refrão:Felizes os que esperam no Senhor
e seguem os seus caminhos. Repete-se
Ou: Ditosos os que temem o Senhor,
ditosos os que seguem os seus caminhos. Repete-se
Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem. Refrão
Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa. Refrão
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida. Refrão
LEITURA II Col 3, 12-21
A vida doméstica no Senhor.
Desde o princípio que os cristãos compreenderam que a sua fé se deve manifestar em toda a sua vida e muito particularmente na vida de família; esta pode ter sempre diante dos olhos a Sagrada Família de Nazaré, que constituiu a melhor experiência do que devem ser as nossas famílias.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
Palavra do Senhor.
ALELUIA Col 3, 15a.16ª
Refrão: Aleluia. Repete-se
Reine em vossos corações a paz de Cristo, habite em vós a sua palavra. Refrão
EVANGELHO Lc 2, 41-52
Jesus é encontrado por seus pais no meio dos doutores
Um dos poucos episódios que os Evangelhos nos contam da vida da Sagrada Família de Nazaré mostra-nos a orientação profunda de Jesus para o Pai celeste e a descoberta progressiva que Maria e José iam fazendo da pessoa e do mistério de Jesus. Assim há de ser o progresso contínuo da vida da família cristã, vivida ela também sempre em relação a Jesus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa. Quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa. Quando eles regressavam, passados os dias festivos, o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o soubessem. Julgando que Ele vinha na caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-l’O entre os parentes e conhecidos. Não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura. Passados três dias, encontraram-n’O no templo, sentado no meio dos doutores, a ouvi-los e a fazer-lhes perguntas. Todos aqueles que O ouviam estavam surpreendidos com a sua inteligência e as suas respostas. Quando viram Jesus, seus pais ficaram admirados; e sua Mãe disse-Lhe: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus respondeu-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Mas eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse. Jesus desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração. E Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens.
Palavra da salvação.
Meditação da Palavra de Deus
Ser sagrada família
A liturgia da Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José tem um Evangelho que me encanta sobremaneira. Quando nós pensávamos que tudo corria muito bem numa família consagrada ainda antes de ser constituída, eis que se manifestam sinais inesperados de algum descontrolo.
Imaginemos o que estará por detrás desta breve narração de S. Lucas. Maria e José não tomaram bem conta do seu filho, pois deixaram de o ver. Estando eles no meio de tanta gente, terá havido, no mínimo, um imperdoável desleixo…
Perante uma situação deveras dramática, houve, certamente, discussão… Maria, mais expansiva do que José, ao aperceber-se da perda do filho terá culpado o marido… E José, embora reservado, não se terá calado… Apetece-nos perguntar: se este casalinho fosse sobrenatural por que razão ficava aflito? Só tinha de confiar na providência divina e continuava, serenamente, a sua marcha para casa, pois Deus faria o resto…
Mas não foi isto o que sucedeu… E todos supomos o tom de voz de Maria quando encontrou o filho… À frente dos doutores, o pobre Jesus apanhou um afinado raspanete: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».
Mas o filho não se terá mostrado arrependido – para espanto e revolta de seus pais… E com um surpreendente “atrevimento”, responde bruscamente aos pais: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?». Isto é, o “rapaz” é pobre e mal-agradecido, como diz o povo…
Perante esta resposta incompreensível, Maria lá se terá lembrado das circunstâncias especiais do nascimento do filho… E José lá terá recordado os seus sonhos muito esquisitos… E lá terão reconhecido que precisavam de ter mais fé e de confiar mais em Deus. E também reconheceram que nem sempre conseguem controlar o filho e entender o que ele diz e faz. E nunca terão desistido de adorar a Deus acima de tudo, de se amar mutuamente, de educar o filho em todas as dimensões, pois Ele crescia «em sabedoria, em estatura e em graça».
Umas centenas de anos antes destes acontecimentos, também Ana e Elcana se terão desentendido… Tinha algum jeito ir toda a família ao santuário e Ana recusar? Certamente isto terá gerado uma discussão no casal e desconforto na família (que não deixou de comentar esta postura de Ana durante o percurso…). Mas depois do desmame, lá foram os dois, todos felizes, ao santuário, apresentar o Samuel…
Relatei o que se terá passado nos bastidores da “Sagrada Família”. E apetece perguntar: Se isto se passou na família de Jesus, Maria e José, então o que se passará nas nossas? Com as nossas famílias – regulares e irregulares, estruturadas e desestruturadas, configuradas reconfiguradas, passa-se a mesmíssima coisa: tensões, desentendimentos, perceções (agora muito em voga…), amuos, dúvidas, comportamentos esquisitos dos filhos, etc.
Mas, tal como na família de Nazaré, e na esteira do que nos diz S. João na 2.ª leitura, se tivermos confiança em Deus, acreditarmos no que Jesus pregou e nos amarmos uns aos outros, “receberemos d’Ele tudo o que lhe pedirmos”… E superaremos, com coragem, os inevitáveis conflitos conjugais e parentais, os momentos de dor e desânimo, as muitas adversidades que pululam nas nossas vidas.
Com esta intimidade com Deus, com Jesus, com o Espírito Santo, com Maria, alimentada pela oração “fervorosa”, pela leitura da Palavra de Deus, pela participação na Eucaristia, por uma vida
sacramental intensa, pelas boas ações e por um testemunho de vida “cristão”, as nossas famílias tornar-se-ão cada vez mais “sagradas” – porque consagradas estão elas desde sempre…
Jorge Cotovio
Oração sobre as oblatas
Nós Vos oferecemos, Senhor, este sacrifício de reconciliação e humildemente Vos suplicamos,
pela intercessão da Virgem Mãe de Deus e de são José, que confirmeis as nossas famílias
na vossa graça e na vossa paz. Por Cristo nosso Senhor.
Antífona da comunhão Cf. Br 3, 38
Deus apareceu na terra e começou a viver no meio de nós.
Oração depois da comunhão
Pai de misericórdia, que nos alimentais neste divino sacramento, dai-nos a graça de imitar continuamente os exemplos da Sagrada Família, para que, depois das provações desta vida, vivamos na sua companhia por toda a eternidade.
Por Cristo nosso Senhor.