No calendário litúrgico da Igreja Católica, o dia 13 de maio ocupa um lugar de particular relevância: é a data em que se celebra, em Portugal e em todo o mundo, a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Esta comemoração não é apenas uma evocação mariana, mas um poderoso convite à oração, à penitência e à conversão, valores centrais do Evangelho. A origem desta devoção remonta a um dos acontecimentos mais marcantes da história religiosa do século XX, ocorrido na pequena aldeia portuguesa de Fátima, que desde então se tornou um dos centros de peregrinação mais visitados do planeta.
O Milagre da Cova da Iria: Um Chamado do Céu
A 13 de maio de 1917, três crianças humildes — Lúcia dos Santos (10 anos), Francisco Marto (9 anos) e Jacinta Marto (7 anos) — testemunharam uma aparição singular na localidade da Cova da Iria, nos arredores de Fátima. Segundo o relato das crianças, uma senhora “mais brilhante do que o sol” apareceu sobre uma pequena azinheira, vestida de branco e com um rosário entre as mãos. Esta figura apresentou-se como Nossa Senhora do Rosário, e pediu-lhes que voltassem ao mesmo local durante os cinco meses seguintes, sempre no dia 13.
Ao longo destas aparições, Nossa Senhora transmitiu mensagens de grande profundidade espiritual e profética. Pediu insistentemente a recitação diária do terço, a prática da penitência e o oferecimento dos sofrimentos pessoais pela conversão dos pecadores. A sua mensagem era, ao mesmo tempo, um consolo para os fiéis e um alerta urgente para o mundo, especialmente face às guerras e aos erros que ameaçavam a humanidade.
A Mensagem de Fátima: Um Apelo Atemporal
Durante as aparições, Maria revelou três segredos, conhecidos posteriormente como “os Segredos de Fátima”. Estes incluíam uma visão do inferno, o anúncio da Segunda Guerra Mundial e a perseguição à Igreja, incluindo o sofrimento do “Bispo vestido de branco” — interpretado por muitos como uma referência ao Papa João Paulo II, especialmente após o atentado que sofreu em 13 de maio de 1981, data coincidente com a primeira aparição de Fátima.
A terceira parte do segredo, guardada em silêncio até o ano 2000, reforça a necessidade de conversão, de oração e de confiança na misericórdia divina. Em todos os aspectos, a mensagem de Fátima permanece profundamente atual, desafiando os crentes a renovar o seu compromisso com a fé.
A Reconhecimento da Igreja e a Instituição da Festa
Após anos de investigação, testemunhos e sinais inexplicáveis, como o Milagre do Sol testemunhado por cerca de 70 mil pessoas a 13 de outubro de 1917, a Igreja Católica reconheceu oficialmente as aparições em 1930. A partir desse momento, a devoção a Nossa Senhora de Fátima espalhou-se rapidamente por todo o mundo.
Em 2002, o Papa João Paulo II inscreveu a celebração litúrgica de Nossa Senhora de Fátima no Calendário Romano Geral, atribuindo-lhe o título de “Nossa Senhora do Rosário de Fátima” e consolidando o dia 13 de maio como a festa oficial da Virgem que apareceu na Cova da Iria.
O Santuário de Fátima: Coração da Peregrinação Mariana
O Santuário de Fátima, construído no local das aparições, tornou-se um dos maiores centros de peregrinação mariana a nível mundial. Todos os anos, milhões de fiéis visitam o santuário, especialmente nas grandes peregrinações de maio e outubro. Os peregrinos vêm de todas as partes do globo para expressar a sua fé, fazer promessas, agradecer graças alcançadas ou simplesmente para rezar em silêncio.
Entre os espaços mais emblemáticos do Santuário estão:
- A Capelinha das Aparições, construída exatamente onde Maria apareceu pela primeira vez. Ainda hoje, conserva um ambiente de simplicidade e recolhimento.
- A Basílica de Nossa Senhora do Rosário, onde estão sepultados os Santos Francisco e Jacinta Marto, canonizados em 2017, e a Irmã Lúcia, cuja beatificação está em curso.
- A Basílica da Santíssima Trindade, de arquitetura contemporânea, concluída em 2007, com capacidade para mais de 8 mil pessoas.
- O Caminho da Via Sacra, que recria o percurso feito pelas crianças até à Cova da Iria, pontuado por esculturas e locais de oração.
- O Museu do Santuário de Fátima, que guarda uma vasta coleção de objetos devocionais, documentos históricos e testemunhos de fé de fiéis de todo o mundo.
Devoção Viva: Um Fenómeno de Fé Coletiva
A festa de 13 de maio é marcada por diversas celebrações litúrgicas, vigílias, procissões e atos de penitência. É comum ver fiéis percorrerem de joelhos os 182 metros entre a Basílica da Santíssima Trindade e a Capelinha das Aparições, num gesto de entrega e devoção. Muitos percorrem a pé longos quilómetros desde várias cidades portuguesas — alguns desde Lisboa, numa peregrinação de cerca de 130 km.
É também um momento de comunhão entre gerações. Crianças, jovens, adultos e idosos unem-se numa só fé, demonstrando que a mensagem de Nossa Senhora de Fátima continua viva, e que o seu apelo à oração e à conversão continua a ecoar nos corações de milhões de pessoas.
O Significado Espiritual do Rosário de Fátima
O título “Nossa Senhora do Rosário de Fátima” destaca o papel central do terço na mensagem transmitida. Maria apelou reiteradamente à recitação diária do rosário como forma de alcançar a paz no mundo e a conversão dos pecadores. Esta oração mariana, simples e repetitiva, é uma meditação profunda sobre a vida de Cristo através dos olhos da sua Mãe.
Durante esta festa, as comunidades católicas são encorajadas a rezar o terço em família, em comunidade ou pessoalmente, reforçando a tradição que tem sustentado a espiritualidade de tantos crentes ao longo dos séculos.
Uma Mensagem Para o Mundo Inteiro
Mais do que uma devoção local, a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Fátima tornou-se um símbolo de esperança global. Em tempos de guerra, pandemias, crises sociais e espirituais, o exemplo das crianças de Fátima — humildes, corajosas e profundamente ligadas a Deus — é uma inspiração para todos os cristãos.
Fátima é hoje uma “escola de santidade” e um lugar onde o Céu tocou a terra. A celebração do 13 de maio é um convite permanente à oração, à confiança e à fidelidade ao Evangelho.